Ser Pai: Entre existir e estar presente

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Há muitas formas de ser pai. Nenhuma delas se sustenta apenas no título ou no sangue. A paternidade, mais do que qualquer outro papel social, exige presença — e não falo da presença física que se mede em horas de convívio, mas daquela que se reconhece no olhar, na escuta, na disponibilidade afetiva e na responsabilidade de estar.

Vivemos tempos em que a figura paterna ainda carrega, em muitos lares, traços do modelo antigo: o provedor que paga contas, mas não conhece o som exato da risada do próprio filho. Um pai que sabe o tamanho do sapato, mas não percebe quando a alma aperta. Essa ausência silenciosa é tão corrosiva quanto qualquer abandono declarado, porque mina a confiança e o vínculo, sem que haja um rompimento visível.

Por outro lado, surgem novas gerações de pais que buscam romper com esse padrão. Homens que entendem que cuidar não é um ato de generosidade extraordinária, mas uma função natural. Pais que sabem trocar fraldas, mas, mais que isso, aprendem a traduzir o choro, a participar da rotina escolar, a estar presentes nas conversas que moldam caráter e sonhos.

Mas ser pai também é enfrentar as próprias imperfeições. É admitir que nem sempre haverá respostas prontas, que às vezes a única forma de cuidar é sentar ao lado e dizer: “estou aqui, mesmo sem saber o que dizer”. É reconhecer que a autoridade não se impõe apenas pela força, mas pela coerência de atitudes e pela constância nos gestos.

A verdade é que não existe um manual único para a paternidade. Há pais biológicos que nunca foram presentes e há pais por escolha — padrastos, tios, avôs, amigos — que ocupam esse espaço com uma intensidade que vai além do laço de sangue. Há pais que erraram, se ausentaram, mas tiveram coragem de voltar e reconstruir pontes. Há outros que permanecem fisicamente, mas se escondem atrás da desculpa da “falta de tempo”, esquecendo que a infância não espera.

Ser pai é mais do que estar na foto. É ser parte da memória viva. É saber que os filhos carregam para a vida adulta não apenas lembranças, mas referências emocionais: a forma como aprenderam a lidar com medo, com frustração, com afeto. É sobre garantir que, ao recordar a própria infância, eles não precisem procurar por você em vão nas lembranças mais importantes.

O dia em que entendermos que paternidade não é sobre ter um filho, mas sobre ser pai de alguém, talvez possamos reduzir o abismo entre o que se espera e o que se entrega. E nesse dia, não importará a forma: biológica, adotiva, por afinidade. Importará apenas o fato de que você esteve. Inteiro.

Porque, no fim, a maior herança que um pai pode deixar não é um patrimônio, mas a certeza de que, enquanto ele esteve vivo, esteve realmente presente.

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